sexta-feira, setembro 29, 2006

Oeste ou Peste?

Hoje cortei a barba
e chorei perdido.
Falta-me a luz de uma cozinha
E a paz de um chá.

Junto e agrafo folhas;
Quem sentiria a minha falta?

Não acredito na infinidade das rectas
E irei descobrir o fim desta.

Final feliz seria ao lado da paz corpórea.

Desvanece-se este humor com toque a nevoeiro.

Cortem-me a cabeça!
Cortem-me as pernas!
Levantem os feridos
Tapem-me os ouvidos.

Vós que vos julgais felizes.
Sim, meu amigo, tu!
Tu também.
Tu pensas nisso (pensa).
De que forma não sei.

O desejo de lamento da nossa morte
é grande;
Apenas porque gosto de te imaginar
a chorar por mim.

Ponto sim.

Pontuação existe.
Aumenta em mim
e cessa a tormenta.

Oeste ou Peste?

segunda-feira, setembro 25, 2006

Outubro. Belo dia frio.

Os gânglios na minha garganta são flocos
(gostei muito mais assim)
Neve ao pequeno almoço.

Doce janela: o teu corpo
E o vapor que me impede de ver
Uma réstia de claridade...

Respiram ou fumam?
Nunca percebo o Outono.

Doces dores que me deixam
Dormente.
Ouço este lamento
Novamente.

Traços e mais traços
Cinzento escoálido.
Sentado e pálido
Está o tempo.

Metereologista sem guarda chuva
Sentado num sofá azul
Não deseja comer ou beber
Espera (com o eco)...
Espera (com o eco)...
Espera (com o eco)...

Sala vazia e riscada.
Enrolam um cigarro.
Queimaram as mãos.
Elas saíram.

Outubro. Belo dia frio.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Iogurte
Instrumental e em pedaços
Um rebento e uma espiga
Que tremem [Oh!], que tremem...

Iogurte
Fraco ou farto faça-se
Justiça nesta planicie
Plantada e agreste

Iogurte
E uma tomada branca
Usaram-se poucos verbos
Mas o que hei-de desejar?

Iogurte
Quando tiver tudo
Não desejarei o nada
Pois estarei preso.

Iogurte
Força-me a pensar
No sentido de cada colher
Que vem ao meu encontro

Iogurte
Não te comerei
Se assim o desejar
No entanto, desejo-o.

Iogurte
Qual a vida de um fósforo?
Quem me fez a mim?
Posso ajudar?

Iogurte
Perdoa-me o uso de tudo
Mas não desculpes qualquer coisa
Concreto!

Iogurte
Abstracto ou cubista,
Aroma ou de pedaços
Pára!

E o Iogurte parou..

domingo, setembro 10, 2006

Já passa das 8...vamos para casa

É a primeira hora da tarde. Depois de uma manha de sono levanto-me feliz com a luz da manha. È paz e calma. Estou sorridente e pronto para começar o dia.
14.00 – Já não estou sozinho. A luz bate de frente e cega-me momentaneamente. Ruídos urbanos não podem perturbar as palavras que se arrastam com o vento… Há um coro de vozes que sussurra. Não deixar morrer as árvores.
3. Muito movimento, muito ritmo. Como se ninguém quisesse estar parado. Acho que também não consigo ficar. Por vezes tudo para, para logo recomeçar. É hora de fugir. Sinto os golpes de língua no pescoço e as mãos que me puxam. Não quero ficar, é hora de fugir.
Hora Coca-Cola™. Há um som que ecoa no vácuo. Chama por mim e prende-me. Eu não consigo sair. Gravito em torno de um ponto na minha cabeça. Malditas drogas..
Drinking tea with the old Queen. Trip de qualquer coisa boa. Nada como a anterior. Sinto-me a flutuar, embora esteja num simples passeio sujo desta rua movimentada. Encostado a um canto com a cabeça nos joelhos e sou o rei do mundo. Vem outra e outra vez. Está cada vez mais rápido. Aperto os braços a volta de mim. E tudo regressa. Uma guitarra chora e as vozes voltam para me acalmar..
É a pior hora do dia. Depois de tudo agora tenho que me aguentar. Está uma sereia comigo, mas sou eu que lhe mostro o caminho. E tenho de a arrastar. Torna-se difícil, eu sei lá se aguento. Eu esforço-me, mas é cada vez pior. Tenho de parar, mas não posso. Em vez disso, começo a cair. Levanto-me e ando devagar. Passos ritmados, pesados. Respiração controlada. Está a passar, já estou a chegar ao fim…
7 pm. Não é uma boa hora para estar na rua. Há um pouco de tudo. Motas, carros, autocarros e camiões. Lunáticos com testa de ferro e macacos enjaulados. E uma terrível dor de cabeça que me apazigua o espírito. Ela foi e eu já não me sinto livre.
Já são 8. Entrei naquele lugar fechado sem perceber que não havia nem por onde entrar nem por onde sair. E só agora que quero sair percebo que não posso. Deixo-me levar pela falta de silencio e pelas batidas contagiantes. Sou eu que me mexo, sou eu que me liberto, dentro deste local fechado. De repente o chão cai e uma luz branca e intensa vem de cima.
9. Ficam as paredes e uma queda continua e infinita. De repente o mundo abre-se. Há uma melancolia aflitiva no ar. Entram borboletas com asas de papel e eu toco ao de leve no chão. Começa a andar. Calmo, acompanho o dançar frenético das sombras aladas. Avanço e sinto tudo o que vejo, sem medo. Inesperadamente sinto um toque no ombro. Viro-me lentamente. Salto e, desesperado, tento fugir dali. É horrível! Voltei aos passeios e ás ruas, já estou em segurança.
Já passa das 8, vamos para casa. È o normal num dia normal. Caminho pelo passeio limpo desta noite de verão. Sinto aquela mesma presença imaginada á minha volta na cidade. Não tarda estou em casa, não tarda eu descanso. Puxo um cigarro, puxo uma, puxo duas passas longas. Volto ao caminho. Ando mais devagar, a passos largos. Vagueio nas sombras e observo as silhuetas animadas que sorriem para mim. Ignoro-as e retomo o meu caminho. Rio-me do céu: sem nuvens, sem estrelas. Estou a chegar. Vejo a minha rua, reconheço aquele bloco.
Entro no edifício e fico-me nas escadas. A luz entra directa pela porta fechada e de vidro. O fumo azul sobe no ar e toca-me nos dedos. Levanto-me e entro em casa.


________________

baseado na colectanea:


Já passa das 8...vamos para casa

...

1. panda bear - untitled 1 (young prayer)

2. richard youngs - once it was autumn (the naive shaman)

3. jack rose - black pearls from the river (raag manifestos)

4. double leopards - fifth element (double leopards)

5. bardo pond - tantric porno (amanita)

6. charalambides - here not here (joy shapes)

7. skaters - track 4 (pavilionous miracles of circular facet dice)

8. black dice - peace in the valley (peace in the valley / ball 7")

9. spektr - whatever the case may be (near death experience)

10. xasthur - abysmal depths are flooded (telepathic with the deceased)


por Osso

domingo, setembro 03, 2006

Tintas na tua gruta

Tintas
na tua gruta.
Pintam
relações de forma bruta.

Árvore
pelo rio.
Escapo
deste mundo frio.

Grades
vermelhas na janela.
Escolho
não rimar.

Nem sequer sei como me ler
Mas não será isso que me fará tremer (ou temer).

Podiar rimar com colher ou sofrer.
O telefone tocou e senti-me
nua e sem forças
para continuar a escrever.