sábado, dezembro 22, 2007

Hipóteses


Se o homem escreve corpo ou relva é simples,
Se escreve a rimar é básico,
Se descreve é porque imita,
Se sente e fala da angústia é repetitivo,
Se fala de amor é enfadonho e, quiçá, de mau gosto.

Se inova falta-lhe musicalidade ou beleza.


Se tenta inventar; desiludido, constata que a ideia não é sua.
Se usa referências falta-lhe ou rasgo ou modéstia.
[Se trata os autores unicamente pelo primeiro nome já não gosto dele]
Se elabora é pseudo-intelectual (e acusa os outros de o serem)
[Somos todos pseudo-intelectuais, não tenham vergonha]
Se é bom ou é comunista (tipos execráveis) ou é fascistas (tipos exagerados).

Se escreve textos longos é enfadonho.
Se os escreve curtos tem pouco para dizer.

Inventa, pensa, rima, fala da angústia, da dor, do prazer 1, do que te apetecer
Usa referências, sê pseudo-intelectual, pretensioso, estúpido ou amoroso.
Acredita no comunismo, no pai natal, no fascismo, no freitas do amaral ou no papa,
bebe até cair, sê abstémio, sóbrio, fuma, cheira, abstem-te, repete-te, castiga-te,
tropeça e cai.

Somos todos homens a viver (viver à chuva)
E estamos todos encurralados para escrever.


1 Diego Armés homem que vive e descreve.

terça-feira, dezembro 18, 2007

Como a dor é grave
Passei por lá esta tarde
E disseram para voltar depois.
Mas eu não quero
Andar à procura de uma cura
Ou de um frasco com luzes.

Tenho tossido muito
E sinto faltar-me o tempo
Para pensar
Nestes ruídos.

Ruídos como rugidos,
Ruídos como as pingas de água
Que vi pela manhã, caídas no chão.
Ruídos como um abraço seco ou
Como este copo bebido de um trago.

Com a pressa (tens andado rápido?)
Deixei grande parte da beleza
No autocarro porque tinha,
Que apanhar o metropolitano.

Chegar a casa com pedaços
de chuva nos pés;
Descalçar-me para a penumbra;
Vestir o pijama e ir dormir.

Aconchegado na rotina;
Repito as músicas, os gestos,
as frases, as histórias.

Repito as músicas, os gestos,
as frases, as histórias.

Só o céu é diferente todos os dias.

A minha vontade de pouco importa
Desde que haja cores, flores
E um pouco de espaço para ouvir.

Também te disseram coisas hoje?
Tentaram ensinar-te que és feliz?
Tentaram explicar-te a vida e a metereologia?
O começo, o fim e a ida à lua?
O funcionamento das estrelas e dos satélites?

Sentimos grande desejo de não repetir.
De não tropeçar no que todos fazem.
Imprimir uns livros e ler para sentir
Que estou a crescer em vez de morrer.

Vamos passear à procura das coisas bonitas.